terça-feira, 13 de agosto de 2013

Eu via a Xuxa na televisão ou A construção da autoimagem da criança negra


            É, eu via a Xuxa na televisão. Minha infância (fim dos anos 1980 e início dos anos 1990) teve a presença constante da referida apresentadora que, hoje, eu não permitiria aos meus filhos (se os tivesse) e nem recomendaria aos meus alunos e alunas, se pudesse...
            As manhãs com aquela criatura nórdica, surgindo de dentro de uma nave “espacial”, foram comuns para muitos de minha geração. Muitas das mensagens, eu só compreendi anos depois. Aquele apelo exacerbado ao consumismo: o carinho era demonstrado por presentes, brinquedos caros que meus pais, geralmente, não podiam me dar. Eu escrevia cartas com longas listas de brinquedos que queria ganhar. No final da imensa lista, escrevia “Eu te amo”, para sensibilizá-la a me dar todas aquelas coisas. Mas, de verdade, nunca a amei. Acho que tinha certa lucidez, mesmo na tenra idade.


            Porém, poucas meninas não nutriram o desejo de ser paquita. Eu, até que não. Tive que entender cedo que certas coisas não eram pra mim. As paquitas tinham que representar as crianças mais lindas e, apesar de não ter tido problemas em me gostar negra, sabia que as pessoas não me achavam bonita. Pra isso, eu teria que ter a pele branca, se tivesse olhos claros, então, maravilha! Teria que ter cabelos que balançassem ao simples movimento. Os meus não balançavam. Ficavam presos em coques ou tranças. Enfim... sabia que não poderia ser uma paquita, sabia que as pessoas achariam um absurdo se eu o quisesse. Sabia que não poderia ter esse sonho. E não o tive! Mas a imaginação fluía... E se alguém como eu pudesse aparecer todas as manhãs com assistente de palco daquela que tantas crianças idolatravam e amavam? E se alguém como eu pudesse apresentar um programa para crianças, com brincadeiras tão divertidas e desenhos marcantes? Hmmmmmmmmmm... esse não podia ser meu sonho! Entendi rápido!
            Mas quantas meninas negras tiveram esse sonho? Tiveram esse sonho e foram desiludidas. Ou foram ridicularizadas, humilhadas por sonhar, por pensar ser “bonita” o suficiente para ser uma simples paquita...

            Continua...

domingo, 4 de agosto de 2013

Ferramentas para valorizar a diversidade racial na escola e em casa

"Como trabalhar o tema da diversidade racial com as crianças? Quais as melhores iniciativas para combater o preconceito manifestados pelos alunos? O 6º Prêmio Educar para a Igualdade destaca projetos bem-sucedidos na valorização da diversidade e promoção da igualdade racial nas escolas.

A ideia é divulgar as boas iniciativas brasileiras para que sejam repetidas em diferentes lugares. "Nossa intenção é espalhar as experiências para um número maior de pessoas e instituições", diz Athayde Motta, diretor executivo do Fundo Baobá. Do ponto de vista pedagógico, de valorização da autoestima das crianças negras e de reconhecimento do esforço dos professores, o prêmio é um grande sucesso. "Crianças que aprendem a não ser racistas deverão se tornar adultos mais proativos ao lidar com as diferenças e com o racismo dos outros", comenta ele.

A iniciativa do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CERRT), com apoio do Fundo Baobá, é realizada há 10 anos e a 6º edição, em 2012, premiou 16 educadores (entre 486 inscritos) de dez estados brasileiros nas categorias Escola e Professor. A contagem estranha mostra a dificuldade de organizar um prêmio que demora dois anos para localizar bons trabalhos em todo o Brasil.

Entre vencedores da categoria Escola estava o projeto "Traçando e trançando os laços da igualdade racial", do Centro de Educação Infantil Onadyr Marcondes, em São Paulo. A diretora Luci Aparecida Guidio Godinho relembra a fala que inspirou seu trabalho. A mãe de uma das alunas desabafou: "Minha filha falou que, quando crescer, quer ser branca, que não gosta da cor de pele que tem e perguntou por que é negra. Eu não sei explicar".

A diretora propôs um caminho ousado para educar alunos de até quatro anos - e seus familiares: identificou falas racistas e preconceituosas das crianças, reservou momentos nas reuniões do Conselho Escolar para falar com os pais sobre o assunto e organizou reuniões de formação dos professores em horário coletivo de estudos. "A gente começou uma construção coletiva, com professores, famílias e as crianças; e trouxemos para dentro da escola um acervo de livros com histórias da cultura africana, além de livros para trabalhar a história da África com os docentes", conta.

Obras como o "O Cabelo de Lelê", de Valéria Belém, e "Menina Bonita do Laço de Fita", de Ana Maria Machado (veja outros) foram trabalhadas e fizeram com que os alunos valorizassem a beleza afro-brasileira em si mesmos ou em seus colegas. Ao final do ano letivo, os pequenos saíram em passeata pelo bairro, mostrando à comunidade roupas e músicas de origem africana e cartazes contra o preconceito racial. "As crianças passaram a ver nesses livros esses cabelos crespos lindos; começaram a se reconhecer, soltar seus próprios cabelos e dizer eu 'sou bonita'. As crianças brancas também já falam 'puxa eu também quero ser assim, minha coleguinha também é bonita né'", comemora a diretora.

Presente na premiação, Kabengele Munanga, professor aposentado de Antropologia na USP, destacou a importância do prêmio para que os professores se lembrem da lei 10.639, que desde 2003 obriga o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira nas escolas. "Existem pessoas que estão se empenhando para cumpri-la, produzindo materiais que podem servir de modelo para a Educação de jovens que vão nascer, que estão crescendo e vão encontrar uma sociedade com esses problemas de racismo", avalia Kabengele.

Entre a categoria Professor, o projeto "Literatura infantil e a construção da identidade da criança no Ensino Fundamental" da professora Gisele Nascimento Barroso da escola de Ensino Fundamental E.R.C e Nossa Senhora da Conceição, em Belém (PA), foi vencedor. O projeto explorou os livros como referência para valorização da identidade afro-brasileira entre as crianças negras e brancas. "Agradeço a todos os alunos que carregaram responsavelmente essa missão de assumir o quanto nós trazemos de África em nossa vida", falou ao ser premiada.
Por meio das inscrições no prêmio, mais de 2.500 prátcias pedagógicas tratando do respeito à diversidade racial e cultural no Brasil já foram registradas pelo CEERT. Tanto as iniciativas premiadas este ano, quanto as que se destacaram em outras edições podem ser conferidas por pais, professores e alunos emhttp://educarparaaigualdadeetnicoracial.ning.com/ 

De: Mariana Queen Nwabasili

sábado, 3 de agosto de 2013

Escola Cidadã

Na perspectiva de uma educação para e pela cidadania (GADOTTI, 2008) deve haver maior democratização no acesso, na permanência e na gestão, tanto das instituições quanto por parte do Estado. O movimento Escola Cidadã, por exemplo, surgiu na década de 1980 e pressupõe não só a consciência dos direitos e dos deveres, como o exercício da democracia, sendo considerados os direitos civis, sociais e políticos. Do ponto de vista da concepção plena de cidadania: cidadania política, cidadania social, cidadania econômica, cidadania civil e cidadania intercultural.
O educador Paulo Freire acreditava na concepção de Escola Cidadã como uma proposta de renovação da educação para e pela cidadania e afirmava que “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros” (FREIRE, 2000).
Crédito da
imagem: www.skoob.com.br

A concepção de Escola Cidadã foi inspirada nas Citizenship Schools, nos Estados Unidos da América da década de 1930, iniciativa de Myles Horton e Esau Jenkins que tinham o intuito de alfabetizar os negros para formar educadores e lideranças negras e, propiciar por meio do voto, a participação política dessa raça até então segregada. Este exemplo serve para contextualizar a iniciativa e a luta de pessoas e/ou grupos negros ao longo da História em busca de possibilidades mais igualitárias de inserção social, sendo a educação, um meio estratégico.
Educação de qualidade tem sido a bandeira de luta de movimentos sociais, organizações da sociedade civil, governos em suas diferentes esferas, gestores, parlamentares e todos os atores que lidam direta ou indiretamente com a questão educacional. No entanto, sabe-se que qualidade educacional é um conceito polissêmico, em disputa, ainda que essa disputa seja timidamente explicitada (CROSO e SOUZA, 2007).
Após a 2ª Guerra Mundial, o debate sobre políticas de ação afirmativa ganhou força no cenário internacional, pois passou-se a uma nova reflexão sobre as questões sociais, especialmente, o racismo.

Referências:
CROSO, Camilla e SOUZA, Ana Lúcia Silva (coord.) Igualdade das relações étnico-raciais na escola: possibilidades e desafios para a implementação da Lei nº 10.639/2003. São Paulo, 2007: Peirópolis.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Col. Leitura. 15 ed. São Paulo, 2000: Paz e Terra.
GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. Col. Questões da nossa época. São Paulo, 2003: Cortez.