quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Retrospectiva 2015 – Racismo na escola



Crédito da imagem: http://migre.me/sHsZj
 
Difícil dizer se 2015 foi um ano em que os casos de racismo nas escolas aumentaram significativamente ou se o que aumentou e muito foram as denúncias dos mesmos nos órgãos competentes e a divulgação dos mesmos nas mídias sociais. Acredito que a segunda opção é a mais provável.
Assim, elegi como primeiro texto de 2016 e para reinaugurar uma maior periodicidade das postagens deste blog uma pequena RETROSPECTIVA com alguns dos fatos que ganharam as mídias sociais. O triste disso tudo foi perceber que nossas indefesas crianças ainda são vítimas de situações constantes e cruéis de preconceito, discriminação e racismo em nossas escolas, apesar de termos dispositivos legais que sinalizam e tem a intenção de garantir que o espaço escolar seja cenário de ações pedagógicas comprometidas com uma educação antirracista, porém, percebemos que os profissionais responsáveis por implementá-la ainda não se conscientizaram de seu papel e tampouco estão sendo formados e preparados para lidar com estas situações que descreverei abaixo:


JUNHO – Belo Horizonte – MG: Escola de Educação Infantil propõe atividade para crianças de 2 anos vivenciarem como é “ter a cor negra” oferecendo tinta preta para que elas pintassem o corpo. A atividade foi feita após leitura da história “A Bonequinha Preta”, de Alaíde Lisboa. A escola divulgou uma foto da atividade no Facebook e logo retirou-a devido à repercussão negativa. Pouco compreendida por alguns leitores da matéria, mas bastante criticada por pessoas ligadas a movimentos negros. A atividade frustrou seu objetivo de fazer com que as crianças vivenciassem o que é ser negro, pois isso não se resume a ter a pele escura. Pintar a pele de preto? Temos pessoas com essa cor no Brasil? E aos 2 anos, alguma criança teria capacidade cognitiva para compreender a suposta profundidade do objetivo dessa atividade? Há muitas obras literárias com conteúdos e imagens bastante pertinentes, interessantes, atrativos e significativos para o trabalho com a diversidade étnico-racial na escola com crianças pequenas, algo que as obras de 1930, por seu contexto, não tem.  Leia mais em: http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/06/24/escola-cria-polemica-ao-pintar-criancas-de-preto-em-mg.htm
 
AGOSTO – São Paulo – SP: Menino de 11 anos divulga um vídeo-desabafo onde denuncia o racismo sofrido na escola com xingamentos e intimidações por parte de colegas e a omissão da professora. Tem sido comum ultimamente as pessoas denominarem “bullying” ao que, na verdade, é manifestação de preconceito racial. A escola, com a ação de seus professores e professoras, não pode se furtar à responsabilidade de se posicionar e intervir quando uma criança está sendo vítima de preconceito racial.  Esse tipo de situação pode ser menos frequente se as escolas efetivarem em seu currículo ações voltadas para uma educação antirracista, de acordo com as Leis nº 10.639/03 e 11.645/08. Leia mais em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/08/o-desabafo-de-um-menino-de-11-anos-que-e-vitima-de-racismo-na-escola.html
 
SETEMBRO – São Paulo – SP: A partir da prática contínua de trabalho com a história e a cultura afro-brasileira, alunos e comunidade de uma escola pública reivindicam a substituição do nome da instituição que homenageia uma figura da Guerra do Paraguai para “Nelson Mandela”. O primeiro, desconhecido e sem identificação com a comunidade, o segundo, figura admirada a partir de projeto pedagógico que fez com que a escola passasse a receber pichações racistas em seus muros. Os comentários dos leitores da matéria nos trazem um panorama sobre por que é importante um trabalho de educação das relações étnico-raciais. Homenagear um ícone negro do combate ao racismo não significa discriminar os brancos, mas reparar uma dívida histórica com a população negra. Somente que não conhece absolutamente nada do legado africano para a história da humanidade pode argumentar que os negros só contribuíram com samba e malandragem, como afirma um dos leitores. Lei 10.639/03 nele!  http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/09/apos-ser-alvo-de-racismo-escola-luta-para-se-chamar-nelson-mandela.html
 
OUTUBRO – Rio de Janeiro – RJ: Menina de 6 anos sofre preconceito racial e sua mãe denuncia a omissão da escola. Uma parte bem triste da história é a leitura dos comentários dos leitores da matéria,  que minimizam a relevância do fato, mencionando “vitimismo” da população negra, afinal, enquanto se sofre calado, não perturba a paz de quem usufrui dos privilégios do racismo institucional na sociedade brasileira. Vitimismo é igualar RACISMO a BULLYING, comparar a escravização e coisificação de povos africanos pelos europeus a outros tipos de preconceitos, desconsiderando seus desdobramentos na atualidade e a recente implementação de políticas públicas de cunho afirmativo após mais de um século da abolição. Leia mais em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/10/mae-diz-que-filha-sofreu-racismo-em-escola-do-rio-cabelo-de-pobre.html